
Foto Crédito: Chris LeBoutillier/Unsplash.
O ano de 2024 entrou para a história como o mais quente já registrado, com a temperatura média global ultrapassando pela primeira vez 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), em Genebra. O documento alerta que as mudanças climáticas induzidas pelo homem atingiram patamares críticos, com efeitos irreversíveis que podem perdurar por séculos ou milênios, enquanto eventos extremos provocam deslocamentos em massa, crises alimentares e perdas econômicas bilionárias.
De acordo com o State of the Global Climate, a temperatura média global em 2024 ficou 1,55 ± 0,13 °C acima da média de 1850-1900, consolidando uma década (2015-2024) em que cada ano se tornou o mais quente da série histórica de 175 anos. O recorde foi impulsionado pelo acúmulo recorde de gases de efeito estufa — as concentrações de CO₂ atingiram 420 ppm em 2023, 151% acima do período pré-industrial —, somado à transição do fenômeno La Niña para o El Niño e a fatores como erupções vulcânicas e redução de aerossóis de resfriamento.
Oceanos e criosfera em colapso
Os oceanos, que absorvem 90% do calor retido pelos gases poluentes, bateram recordes de temperatura pelo oitavo ano consecutivo, acelerando a elevação do nível do mar — que dobrou sua taxa desde os anos 1990, chegando a 4,7 mm/ano entre 2015 e 2024. A acidificação das águas superficiais, com redução drástica do pH, já afeta ecossistemas marinhos e a segurança alimentar.
Na criosfera, as geleiras registraram a maior perda de massa em três anos, com recuos críticos na Noruega, Suécia e Andes tropicais. O Ártico teve a sétima menor extensão de gelo marinho em 46 anos, enquanto a Antártida marcou seu terceiro mínimo histórico consecutivo, abaixo de 2 milhões de km².
Impactos humanos e econômicos
Ciclones tropicais, inundações e secas provocaram o maior número de deslocamentos desde 2008, agravando crises em 18 países. Nos EUA, os furacões Helene e Milton causaram dezenas de bilhões em perdas e mais de 200 mortes. Na Ásia e África, eventos como o tufão Yagi e o ciclone Chido devastaram regiões do Vietnã, Filipinas, Moçambique e Malawi, deslocando 100 mil pessoas só neste último.
“Sinais de socorro” e chamado à ação
António Guterres, secretário-geral da ONU, destacou que “limitar o aquecimento a 1,5 °C ainda é possível”, exigindo planos climáticos nacionais ambiciosos e investimento em energias renováveis. Celeste Saulo, secretária-geral da OMM, reforçou a urgência de ampliar sistemas de alerta precoce — hoje presentes em apenas metade dos países — e adaptar infraestruturas. “Embora um único ano acima de 1,5 °C de aquecimento não indique que as metas de temperatura a longo prazo do Acordo de Paris estejam fora de alcance, é um alerta de que estamos aumentando os riscos para nossas vidas, economias e para o planeta”, alertou.
O relatório, baseado em dados de serviços meteorológicos globais e parceiros da ONU, será referência para debates no Dia Meteorológico Mundial (23/03), Dia da Água (22/03) e Dia dos Glaciares (21/03). Cientistas alertam: mesmo com cenários de baixa emissão, o aquecimento oceânico e a acidificação continuarão até 2100, em mudanças “irreversíveis em escala centenária”.