
Obras para construção da pista da Stock Car já estão em andamento em frente ao Hospital Veterinário. Foto Crédito: Vitoria Brunini/UFMG
Belo Horizonte já tem data marcada para a realização de sua primeira corrida de Stock Car: será de 15 a 18 de agosto deste ano e promete movimentar a capital mineira com shows musicais e um festival gastronômico. Competirão na etapa BH pilotos como Felipe Massa e Cacá Bueno. A previsão é de que a corrida seja realizada por cinco anos consecutivos num trajeto que circunda todo o Mineirão, na região da Pampulha, e desce pela avenida Carlos Luz. Mas o evento automobilístico está sendo questionado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diante dos prejuízos ambientais resultantes de sua realização naquele local. De acordo com a considerada melhor universidade federal do país, os danos serão “incalculáveis”, mas seus dirigentes não têm sido ouvidos pelas autoridades locais.
No início de março, a prefeitura de Belo Horizonte iniciou sem qualquer aviso prévio o corte de dezenas de árvores na região, entre elas 8 ipês-amarelos, de preservação permanente segundo lei estadual. As árvores agora cortadas fazem parte de um acordo de compensação ambiental em decorrência do corte de quase 800 espécies arbóreas quando da transformação do Mineirão em arena para a Copa do Mundo de Futebol, em 2013.
A reitoria da universidade publicou em 28 de fevereiro uma nota em que se posiciona contra a realização de provas de automobilismo no local escolhido, alertando para os “enormes impactos” que a corrida terá nas atividades acadêmicas. Além do fechamento de portarias de acesso à universidade dez dias antes do evento e cinco dias depois dele, o Hospital Veterinário, referência nacional no tratamento dos animais, corre o risco de ser fechado e os animais podem morrer devido ao alto e intermitente barulho dos motores.
“Como vamos manter estufas de gás carbônico, respiradores para animais, freezer a menos 80 graus centígrados?”, questiona Eliane Gonçalves, vice-diretora da Escola de Veterinária da UFMG. Isto porque pode ser que a energia elétrica seja desligada durante as obras de construção da pista. Ela não descarta o fechamento temporário do Hospital Veterinário diante da impossibilidade de manter animais sob condições insalubres. “Você vai ter uma corrida que vai ter um som muito alto, intermitente, muito acima do que o animal suporta, capaz de assustar um cavalo no piquete, por exemplo, que pode fugir, pular a cerca, se machucar, sofrer fraturas, traumatismo craniano, e isso determinar a eutanásia desses animais”, alerta.

Outra preocupação são os possíveis danos causados a equipamentos de alta precisão dos laboratórios da escola devido à trepidação provocada pelo maquinário pesado que será usado para compactar o solo. O valor total dos equipamentos que podem ser danificados ultrapassa 36 milhões de reais, segundo cálculos da instituição de ensino. Em audiência pública realizada na Câmara Municipal de Belo Horizonte na semana passada, os vereadores tomaram conhecimento de que somente os equipamentos do Laboratório de Qualidade do Leite, que recebe amostras para análise de 14 mil fazendas e 300 laticínios, estão avaliados em 9 milhões de reais.
“Estamos falando do maior hospital veterinário das instituições federais de ensino superior do país”, desabafa Gonçalves, “não uma simples clínica”, como foi classificada por quem assessora a entidade promotora do evento, o que, diz ela, diminui sensivelmente a importância do local a ser afetado.
Finalmente, ela e Afonso de Liguori, diretor da Escola, sustentam que um hospital veterinário equivale a uma unidade de tratamento de humanos, segundo o conceito de saúde única.