
Dinossauros pescoçudos viveram no noroeste paulista há 80 milhões de anos. Crédito da ilustração: Pixabay.
Pesquisadores descobriram em Ibirá, interior de São Paulo, evidências de uma doença óssea fatal que afetou dinossauros há 80 milhões de anos. O estudo, publicado na revista The Anatomical Record, analisou fósseis de seis saurópodes – os gigantes pescoçudos – com marcas de osteomielite, uma infecção que ataca os ossos e pode ser causada por bactérias, vírus ou fungos. A ausência de sinais de cicatrização nos ossos indica que os animais morreram enquanto a doença ainda avançava, provavelmente sendo a causa de suas mortes.
Doença antiga
As lesões encontradas nos fósseis apresentavam textura esponjosa e padrões variados, incluindo protuberâncias circulares e marcas semelhantes a impressões digitais. Algumas chegavam a perfurar o osso completamente, da medula até a superfície, possivelmente expondo pus ou sangue. “Esses dinossauros sofriam com infecções graves que destruíam seus ossos por dentro”, explica Tito Aureliano, paleontólogo da Universidade Regional do Cariri e líder do estudo. A análise foi realizada com microscópios eletrônicos no Instituto de Estudos dos Hymenoptera Parasitoides, em São Carlos.
Ambiente perigoso
Os fósseis foram encontrados no sítio Vaca Morta, região que no período Cretáceo era um ambiente árido com rios rasos e poças de água parada. Essas condições podem ter facilitado a proliferação de patógenos transmitidos por mosquitos ou pela água contaminada. “Era um cenário perfeito para doenças, onde dinossauros, tartarugas e parentes antigos dos crocodilos conviviam e provavelmente compartilhavam parasitas”, detalha Aureliano. A mesma equipe havia descrito em 2021 um caso semelhante em um dinossauro menor, o Ibirania parva, encontrado na mesma formação geológica.
Importância científica
A descoberta ajuda a entender como doenças afetavam os dinossauros e como o ambiente influenciava sua saúde. As marcas ósseas estudadas servem agora como referência para diferenciar osteomielite de outros problemas como câncer ou fraturas em fósseis. “Esses achados são cruciais tanto para a paleontologia quanto para a arqueologia, mostrando padrões de infecções que podem ser comparados com ossos humanos antigos”, complementa o pesquisador. O estudo contou com apoio da FAPESP e do CNPq, reforçando a importância do investimento em ciência básica para desvendar segredos do passado.
Para saber mais
O artigo completo está disponível na The Anatomical Record, e um vídeo explicativo pode ser visto no canal Colecionadores de Ossos no YouTube. Os fósseis estudados continuam sendo analisados, enquanto os pesquisadores buscam entender quais microrganismos específicos causaram as infecções e como elas se espalharam entre os dinossauros da região.