
Entrega de 100 novos ônibus elétricos para a cidade de São Paulo. Crédito da Foto: Prefeitura de São Paulo - Edson Lopes Júnior.
O mercado brasileiro de ônibus elétricos registrou, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), um crescimento recorde no primeiro semestre de 2025, com 306 unidades emplacadas – aumento de 141% ante 2024. Desse total, 275 (90%) foram para São Paulo. Apesar do avanço, os elétricos ainda representam menos de 5% dos cerca de 15 mil ônibus da capital paulista, considerando os 527 veículos a bateria e 201 trólebus em operação. A substituição do diesel avança lentamente devido a diversas questões, dentre elas as de ordem tecnológica.
Lei ficou no papel
A transição para ônibus elétricos em São Paulo começou na gestão do então prefeito João Doria, quando entrou em vigor a Lei Municipal nº 16.802/2018. Esta lei fixou um prazo de 20 anos, até 2038, para a emissão zero de gás carbônico (CO²) da frota paulistana de ônibus, mais redução de 95% de material particulado (MP) e de 95% de óxidos de nitrogênio (NOx). Ao mesmo tempo, abriu uma licitação para renovar os contratos com as empresas de ônibus com base em metas anuais compulsórias de descarbonização das frotas, conforme a nova lei.
A implementação efetiva começou em 2019, com testes e contratos de operação com as concessionárias, já na gestão Bruno Covas. O maior avanço ocorreu a partir de outubro de 2022, com a decisão do atual prefeito Ricardo Nunes de proibir a entrada de novos ônibus a diesel no sistema de transporte paulistano, impulsionando a eletrificação das frotas.
Desde então, a cidade vem incorporando dezenas de ônibus elétricos ao transporte público anualmente, consolidando-se como referência nacional em mobilidade urbana sustentável. O atual Programa de Metas da Prefeitura de São Paulo prevê substituir 2.200 ônibus movidos a diesel por veículos de matriz energética limpa até 2028. São Paulo já tinha experiência em transporte elétrico desde 1949, quando lançou a primeira rede de trólebus da América Latina.
Além disso, em 2009, o então prefeito Gilberto Kassab lançou uma pioneira Lei de Mudança do Clima (Lei 14.933) que, já naquela época, fixava um prazo de dez anos para a total descarbonização das frotas de ônibus. Por vários motivos, a lei não foi aplicada, o que obrigou à reprogramação dos prazos e a edição da nova Lei 16.802, em janeiro de 2018.
Para se ter uma ideia da importância desse processo de descarbonização da frota, cada ônibus elétrico em circulação deixa de consumir 35 mil litros de diesel anualmente, com impacto equivalente ao plantio de 6.400 árvores.
Estoque de energia nas garagens
A prefeitura paulistana assinou em 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, um protocolo de intenções com as empresas Matrix Energia e Huawei para implementar o sistema BESS (Battery Energy Storage System), tecnologia que armazena energia em baterias de grande porte para carregar ônibus elétricos nas garagens da capital. O BESS funciona como um reservatório de energia, permitindo o carregamento simultâneo de até 29 ônibus por módulo instalado. A tecnologia reduz a pressão sobre a rede elétrica convencional e garante recarga mesmo em caso de interrupções no fornecimento. “Isso nos permitirá acelerar a eletrificação da frota sem sobrecarregar a infraestrutura existente”, explicou o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Celso Jorge Caldeira. Porém, a implantação do sistema dependerá da conclusão de estudos técnicos, definição dos locais para instalação nas garagens e obtenção dos licenciamentos necessários. As empresas e a prefeitura trabalharão agora nos detalhes operacionais para viabilizar a tecnologia.
Parceria
A Matrix Energia e a Huawei trazem ao projeto experiência internacional com casos similares na China, onde o sistema já opera com sucesso. A solução não exigirá investimentos diretos da prefeitura, sendo custeada pelas empresas parceiras. “Estamos trazendo uma tecnologia testada globalmente para transformar São Paulo em referência em mobilidade sustentável”, afirmou Rubens Misorelli, CEO da Matrix.