
Avião agrícola. Foto Agência PáginaUm de Notícias/Direitos Reservados.
Os agricultores familiares de São Félix do Xingu, município da região sudeste do estado do Pará, obtiveram uma enorme vitória no último dia 15 de dezembro, com a publicação da Instrução Normativa Nº 01, da Secretaria Executiva de Meio Ambiente e Mineração (EMMAS), da Prefeitura Municipal de São Félix do Xingu (PA), que define as áreas sensíveis a aplicação aérea de herbicidas no âmbito do município.
A partir de agora, a aplicação de herbicidas por meio de aeronaves só poderá ser realizada em locais com no mínimo 10 mil metros de distância das áreas sensíveis listadas na normativa; a mil metros de povoados, cidades, vilas, bairros, de mananciais de captação de água para abastecimento de população; e quinhentos metros de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos de animais.
Essa é uma vitória das diversas organizações e associações de produtores rurais familiares de São Félix do Xingu, como a Associação de Mulheres Produtoras de Polpa de Frutas (AMPPF), que recebe apoio técnico do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), por meio do programa Florestas de Valor, para promoção de uma produção mais sustentável e de menor impacto, como SAFs agroecológicos. além da inserção dos produtos em programas governamentais, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e outros mercados de maior valor agregado.
A diretora da AMPPF, Maria Josefa Machado Neves, acredita que a normativa é um bom avanço para solucionar situações como as vividas por ela ao longo deste ano. Em abril, quando houve uma aplicação de agrotóxicos por parte de um fazendeiro das imediações feita a partir de uma aeronave, sua plantação de mamão, que teria como destino o programa de merenda escolar do município, foi atingida e totalmente perdida. “Eu fui uma das mais prejudicadas”, lembra a agricultora, que contou com a produção de polpas para compensar minimamente a perda completa da plantação de mamão.

Mesmo após reuniões com a SEMMAS, em novembro nova aplicação foi feita de modo incorreto por pecuaristas da região atingindo áreas de Josefa e sua vizinha, provocando uma diminuição na produção das frutas que utilizam para fazer as polpas, sem contar com os impactos na sua plantação de mamão e na plantação de mandioca de sua vizinha. Desta vez, após procurarem a SEMMAS e a prefeitura, as associações e cooperativas locais foram ouvidas, o que culminou na publicação da normativa.
Celma Gomes de Oliveira, Coordenadora de Projetos do Imaflora em São Félix do Xingu, destaca uma importante inovação trazida pela normativa: as compras de herbicidas deverão ser precedidas por uma autorização para a aplicação do produto. Desta forma, será possível fazer o controle e cruzar os dados dos compradores junto às revendedoras, com um maior controle da quantidade e destino dos produtos vendidos. “Hoje a pessoa compra e não tira licença para comprar o herbicida. Agora vai precisar levar a autorização da secretaria. A ideia é cruzar as informações de compra. Vai ter autuação para a revendedora e para o produtor que comprar sem licença”, explica Celma.
No último dia 21 de dezembro houve uma reunião promovida pela SEMMAS com o intuito de apresentar todos os detalhes da normativa para produtores, revendedores e associações. Para consolidar a abrangência da IN, agregar novas áreas sensíveis que, porventura, ainda não estejam contempladas na normativa e para engajar um maior número de produtores, uma nova reunião foi convocada para janeiro.
Com a publicação da normativa, Josefa espera que o potencial de produção sustentável do município, que possui 300 famílias cadastradas no programa Território Sustentável, do governo do estado, possa avançar. “Nós só queremos sobreviver, e para sobreviver nós temos que ter o direito de plantar e colher”, resume a agricultora.
Sobre São Félix do Xingu
São Félix do Xingu é o município com o maior rebanho bovino do país, concentrando 2,5 milhões de cabeças de gado, conforme a Pesquisa da Pecuária Municipal de 2021, divulgada em setembro pelo IBGE. Além disso, a cidade também costuma liderar índices de desmatamento – foi o município que mais desmatou a Amazônia no último mês de agosto, por exemplo, com 92km, segundo dados do Imazon; e ficou em segundo lugar entre as cidades com os maiores índices de emissões de gases de efeito estufa segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases (SEEG), do Observatório do Clima.
Sobre o Imaflora
O Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), uma organização brasileira sem fins lucrativos, nasceu em 1995 defendendo que a melhor forma de conservar florestas é dar a elas uma destinação econômica, associada ao uso responsável dos recursos naturais.
O Instituto atua no Brasil todo, promovendo ações que contribuem para a conservação dos recursos naturais e, também, para melhoria e manutenção da qualidade de vida de trabalhadores rurais e florestais, populações tradicionais, indígenas, quilombolas e agricultores familiares.
Da mesma maneira, busca fazer a diferença nas regiões em que atua, criando modelos de uso da terra e de desenvolvimento local sustentável que possam ser reproduzidos em outros municípios, regiões ou biomas do País.
Por meio de soluções integradas e inovadoras, o Imaflora tem se revelado um agente de mudanças nos setores florestal e agropecuário, demonstrando que é possível:
– Conciliar produção com conservação.
– Combinar benefícios sociais, ambientais e econômicos.
– Reduzir as emissões de gases de efeito estufa.