
Crédito da foto: Rauf Allahverdiyev/Pexels.
Se você já sentiu a frustração de morder um tomate bonito, mas sem gosto, vai se interessar por esta notícia: cientistas podem ter encontrado uma solução para devolver sabor e nutrientes aos tomates que chegam à nossa mesa. O segredo está em um gene chamado Samba, que – quando modificado – é capaz de produzir frutos mais doces e ricos em antioxidantes. A descoberta foi feita por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) em Piracicaba, interior de São Paulo, em parceria com o Instituto Max Planck, da Alemanha, e o Inrae Bordeaux, da França. Eles usaram a técnica de edição genética CRISPR (a mesma que permite “recortar e colar” partes do DNA) para ajustar o funcionamento desse gene específico em plantas de tomate. O resultado? Frutos com mais açúcares naturais e maior concentração de flavonoides – substâncias benéficas à saúde que combatem o envelhecimento celular.
Publicado na conceituada revista Plant Biotechnology Journal, o estudo partiu de uma observação curiosa: quando esse mesmo gene era desligado em outras plantas, elas desenvolviam órgãos maiores. Ao testar a técnica no tomateiro, os cientistas não só confirmaram mudanças no formato dos frutos (que ficaram mais alongados) como descobriram essa melhoria surpreendente em suas qualidades nutricionais e de sabor.
A engenheira agrônoma Perla Novais de Oliveira, principal autora do estudo, explica que a abordagem representa um exemplo de pesquisa translacional, onde conhecimentos básicos são adaptados para aplicações práticas no melhoramento de cultivos. O trabalho contou com participação de estudantes de graduação, pós-graduação e pesquisadores de pós-doutorado, sendo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) através do programa Jovem Pesquisador em parceria com o Instituto Max Planck.
A pesquisa, que ainda está em fase laboratorial, representa um passo importante para resolver um problema conhecido na agricultura moderna – a perda gradual de sabor e nutrientes em variedades comerciais produzidas em larga escala, sabor e nutrientes muitas vezes sacrificados em nome da produtividade e da resistência a longas viagens. Com os avanços da edição genética, pode ser possível ter tomates que unem o melhor dos dois mundos: sabor de quitanda e durabilidade de supermercado.
Para quem quiser conhecer os detalhes técnicos, o artigo completo está disponível na Plant Biotechnology Journal e pode ser acessado aqui. Enquanto aguardamos os próximos passos dessa pesquisa, fica a boa notícia: a ciência está trabalhando para devolver o gosto – e os benefícios – a um dos alimentos mais populares do mundo.