
Foto Crédito: Marten Bjork/Unsplash
Enquanto empresas culpam processos seletivos pela alta rotatividade, números do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que trabalhadores pedem demissão principalmente por salários insuficientes, falta de reconhecimento e condições precárias de trabalho. A contradição expõe uma desconexão entre as preocupações corporativas e a realidade dos funcionários.
Um estudo recente da consultoria Robert Half com 400 gestores de RH apontou que 40% das contratações no Brasil são consideradas “equivocadas”. Entre os principais erros citados estão a avaliação superficial de candidatos (65%) e o excessivo foco em habilidades técnicas em detrimento de competências comportamentais (68%).
No entanto, um levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego revela um quadro bastante diferente. A pesquisa – realizada com 53.692 trabalhadores que pediram demissão entre novembro de 2023 e abril de 2024 – mostra que os motivos reais por trás das saídas voluntárias são muito mais concretos:
- 32,5% citaram salários baixos como principal razão
- 24,7% alegaram falta de reconhecimento profissional
- 24,5% mencionaram problemas éticos na empresa
- 23% apontaram adoecimento mental por estresse no trabalho
Os dados mostram ainda que 58% dos que saíram com outro emprego garantido conseguiram aumento salarial na nova posição. Entre os demissionários, 76% afirmaram estar satisfeitos com a decisão de terem saído da empresa – um sinal claro de que, em muitos casos, a rotatividade reflete más condições de trabalho e não falhas no processo de seleção.
A contradição é particularmente evidente em setores como tecnologia da informação, onde 59% dos profissionais que pediram demissão já tinham nova colocação garantida. Desse total, 44% citaram especificamente remuneração insuficiente como motivo para sair – justamente em uma área que costuma investir pesado em sofisticados processos seletivos.
O levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego também revelou disparidades importantes:
- Mulheres (29%) relataram sofrer mais com estresse no trabalho do que homens (18%)
- Jovens entre 18-24 anos foram os que mais mencionaram problemas éticos na empresa (28%)
- 16,2% de todos os respondentes citaram conflitos com chefias imediatas
Metodologia
Os números da Robert Half vêm de entrevistas com 400 gestores de RH. Já os dados do Ministério do Trabalho foram coletados por meio da Carteira de Trabalho Digital com trabalhadores que pediram demissão entre novembro de 2023 e abril de 2024, totalizando 53.692 respondentes válidos.
Contexto
Os números ganham ainda mais relevância quando comparados com estatísticas do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que mostram aumento nas demissões voluntárias – de 34% do total em 2023 para 36% no primeiro semestre de 2024. A pesquisa do MTE foi encomendada justamente para entender esse crescimento.
Os dados sugerem que, enquanto as empresas se preocupam em refinar seus processos de seleção, muitos trabalhadores continuam deixando seus empregos por razões básicas: salários que não acompanham o custo de vida, ambientes de trabalho tóxicos e falta de reconhecimento profissional – problemas que nenhum método sofisticado de recrutamento consegue resolver.