
Mulheres do Afeganistão, República Democrática do Congo e Venezuela participaram do evento de apresentação do projeto Empoderando Refugiadas em Brasília. Crédito da foto: ACNUR/Miguel Pachioni.
Nesta quinta-feira, 24, Brasília foi palco de um encontro que marcou os 10 anos do programa Empoderando Refugiadas. A iniciativa, fruto da parceria entre Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Pacto Global da ONU – Rede Brasil e ONU Mulheres, reuniu histórias de mulheres que reconstruíram suas vidas no Brasil através do acesso ao trabalho formal. Alejandra, participante da turma de 2023, compartilhou sua jornada: “O curso é excelente e me ajudou a dar continuidade aos meus estudos, a minha formação profissional. Depois da formação conquistei um emprego formal, estou vivendo em minha casa própria com minha família e tenho planos para seguir adiante”. Seu relato ecoa o de centenas de outras mulheres que encontraram no programa um caminho para a autonomia e a dignidade.
Superação e conquistas
Hilda, formada em 2024, destacou como o curso mudou sua realidade em tempo recorde: “Um mês após a formação, já estava empregada, colocando em prática tudo o que aprendi”. Suas palavras revelam não apenas uma transformação individual, mas um ciclo virtuoso que se estende às futuras gerações. “Minhas filhas agora veem na educação a chave para um futuro melhor”, completou. Já Johanna, venezuelana com duas formações em seu país de origem, enfrenta o desafio da revalidação de diplomas com determinação: “Se for preciso cursar tudo novamente em outro idioma, farei sem hesitar”.
Parcerias que fazem a diferença
O sucesso do Empoderando Refugiadas se deve à ação coordenada de diversos atores. Organizações como o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e a Operação Acolhida atuam na identificação e encaminhamento das participantes, enquanto empresas como Foundever, Accor e Renner abrem portas no mercado de trabalho. Adriana Wells, da Foundever, explicou a lógica por trás do compromisso corporativo: “Começamos com uma vaga e hoje temos 600 profissionais refugiados contratados. Até 2027, queremos chegar a 1.000”. A estratégia, segundo ela, vai além da responsabilidade social: “São profissionais que trazem resultados concretos e enriquecem nossas equipes”.
Desafios persistentes
Apesar dos avanços, os obstáculos permanecem significativos. Dados da pesquisa Mover-se mostram que mulheres refugiadas, mesmo com maior escolaridade que os homens, enfrentam barreiras adicionais no acesso a serviços públicos e oportunidades de emprego. Muitas são as únicas responsáveis por suas famílias e precisam conciliar a busca por qualificação com os cuidados dos filhos. O programa responde a esses desafios oferecendo estruturas de apoio, como espaços seguros para as crianças durante as aulas, e formação adaptada às necessidades do mercado brasileiro.
Olhando para o futuro
Em 2025, o Empoderando Refugiadas ampliará seu alcance com turmas em Boa Vista (RR), Brasília (DF), Caxias do Sul (RS), Curitiba (PR), Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS), beneficiando 230 mulheres. Para Irmã Rosita Milesi, do IMDH, cada história de superação tem um significado que ultrapassa o indivíduo: “Quando empoderamos uma mulher refugiada, estamos fortalecendo toda a comunidade onde ela está inserida”. O programa continua sendo um farol de esperança, mostrando como a integração pelo trabalho pode transformar vidas e construir sociedades mais justas e acolhedoras.
Sobre o Empoderando Refugiadas
O Empoderando Refugiadas é um projeto da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Pacto Global da ONU – Rede Brasil e ONU Mulheres criado em 2016 e que, desde então, já impactou a vida de mais de 600 mulheres. Juntamente a diversos parceiros da sociedade civil, setor público e privado, o projeto já formou turmas em Boa Vista, Brasília, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.
Os objetivos do projeto são capacitar as participantes para o mercado de trabalho brasileiro, facilitar a integração local e a adaptação laboral no país, promover a contratação formal de refugiadas e seu empoderamento econômico, além de fomentar a sensibilização do setor privado.
Entre os pilares do projeto estão a valorização da diversidade e da inclusão, incluindo mulheres com deficiências, cuidadoras de pessoas com deficiências, mulheres com mais de 50 anos e população LGBTIQA+.