
Farmácias começam a receber canetas injetáveis 100% produzidas no país. Crédito da foto: Haberdoedas/Unsplash.
As primeiras canetas injetáveis produzidas 100% no Brasil para tratamento de obesidade e diabetes tipo 2 chegaram às farmácias nesta segunda-feira, 4. Os medicamentos Olire e Lirux, do laboratório brasileiro EMS, são fabricados em uma planta industrial inaugurada no ano passado em Hortolândia (SP). Sua construção foi viabilizada com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A tecnologia será gradativamente repassada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que produzirá a caneta em seu Complexo Tecnológico de Medicamentos de Farmanguinhos, no Rio de Janeiro. O processo de transferência inclui desde a síntese do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) até a formulação final dos medicamentos injetáveis.
A chegada dessa alternativa ocorre em um cenário de crescimento acelerado dessas doenças crônicas no Brasil. Segundo a Fiocruz, a prevalência de obesidade entre adultos pode atingir 48% até 2044, enquanto outros 27% poderão ter sobrepeso. Atualmente, os índices são de 34% e 22%, respectivamente. Entre crianças de até 10 anos, já são mais de 3,1 milhões vivendo com obesidade, de acordo com o Ministério da Saúde. A diabetes tipo 2 também apresenta tendência de alta, pressionando os sistemas de saúde pública e privada.
As canetas Olire e Lirux são indicadas, respectivamente, para tratamento de obesidade e diabetes tipo 2. Ambas são produzidas a partir da molécula liraglutida, que pertence à classe dos análogos ao GLP-1, hormônio que atua na regulação da glicose e na promoção da saciedade. A EMS desenvolveu os medicamentos após a queda das patentes nacionais da Saxenda e Victoza, da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk.
Impacto na saúde
Os medicamentos produzidos serão versões nacionais de tratamentos atualmente importados, como aqueles à base de semaglutida. A iniciativa visa reduzir a dependência do Brasil no mercado internacional e ampliar o acesso a terapias inovadoras pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A diretoria da Fiocruz destacou que este projeto inaugura uma nova frente de atuação na produção de medicamentos injetáveis de alta complexidade.
Para o presidente da EMS, Carlos Sanchez, a parceria é histórica para a indústria farmacêutica nacional. Já a vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Priscila Ferraz, enfatizou que a colaboração com a iniciativa privada fortalece o Complexo Econômico-Industrial da Saúde. A diretora de Farmanguinhos, Silvia Santos, ressaltou o potencial da iniciativa para diversificar o portfólio de produção da instituição.
Contexto regulatório
O anúncio ocorre em meio às recentes medidas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para controlar a prescrição desses medicamentos, que passaram a ter receitas retidas nas farmácias desde junho. As restrições visam coibir o uso inadequado desses tratamentos, que ganharam popularidade por seus efeitos no controle de peso.