
Crédito da foto: Frida Lannerström/Unsplash
Um artigo publicado no último dia 16 na renomada revista Trends in Ecology & Evolution por cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de São Paulo (USP) revela que, para entender como animais decidem entre lutar ou recuar em conflitos, é preciso analisar não só os riscos imediatos, mas também os impactos a longo prazo em sua sobrevivência e reprodução. O estudo desafia a visão tradicional de que apenas os custos de uma única briga importam e propõe uma nova abordagem para estudar esses comportamentos.
Por que os animais brigam?
Conflitos entre animais são comuns na natureza – seja por comida, território ou parceiros. Muitas vezes, essas disputas são apenas demonstrações de força, mas podem levar a ferimentos ou até morte. Até agora, a maioria das pesquisas focava nos custos de uma única luta, como gasto de energia ou risco de lesão. Porém, os pesquisadores brasileiros Paulo Enrique Peixoto (UFMG) e seu colaborador argumentam que é preciso considerar também:
- Quantas vezes o animal se envolve em brigas ao longo da vida
- Como isso afeta sua capacidade de se reproduzir no futuro
Algumas perdas são mais graves
Nem toda perda é igual. Por exemplo:
- Camarão-pistola: Se perder uma pinça, ela cresce de novo – então o prejuízo é temporário.
- Besouro: Se quebrar um chifre, não regenera – e, como usam chifres para disputar fêmeas, isso pode significar o fim de sua reprodução.
O estudo analisou 73 pesquisas sobre 62 espécies e identificou 6 tipos de custos em brigas, como estresse, risco de morte e menos tempo para cuidar dos filhotes. Mas há um problema: cada grupo de animais é estudado de um jeito diferente, o que dificulta comparações.
Como prever se um animal vai lutar?
A decisão depende do quão valioso é o prêmio e das chances de vitória. Por exemplo:
- Se o recurso (como um território fértil) for essencial, vale a pena arriscar.
- Se o rival for muito mais forte, às vezes é melhor recuar e esperar outra oportunidade.
Os pesquisadores propõem um método em 3 etapas para entender melhor esses custos:
- Identificar o risco mais importante para a espécie (ex.: lesão permanente).
- Medir como esse custo se acumula em cada briga.
- Relacionar esses dados com o sucesso reprodutivo ao longo da vida do animal.
Por que isso importa?
“Se um animal briga muito, será que no longo prazo isso reduz seu número de filhotes? Ou será que os mais agressivos se reproduzem mais?”, questiona Peixoto. A resposta pode ajudar a entender como a evolução moldou esses comportamentos em diferentes espécies.
A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e abre caminho para novos estudos sobre estratégias animais de sobrevivência.
Leia o artigo em: Trends in Ecology & Evolution (16/07/2025) – https://www.cell.com/trends/ecology-evolution/fulltext/S0169-5347(25)00153-3
Em resumo: A próxima vez que você vir dois animais disputando algo, lembre-se: a escolha entre lutar ou fugir não é só sobre quem é mais forte, mas sobre quanto essa briga vai custar no futuro daquele indivíduo.