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O número global de mortes de crianças menores de cinco anos caiu para 4,8 milhões em 2023, atingindo um novo recorde histórico, segundo dois relatórios divulgados na terça-feira (25) pelo Grupo Interagências das Nações Unidas para Estimativa da Mortalidade Infantil (UN IGME). Os dados mostram que, desde 2000, as mortes infantis caíram pela metade, e o número de natimortos diminuiu em mais de um terço, graças a décadas de investimentos em saúde materno-infantil. No entanto, o ritmo de redução desacelerou e cerca de 1,9 milhão de bebês ainda nascem mortos anualmente no mundo e isso podia ser evitado.
Progresso em risco
Apesar dos avanços, os ganhos estão ameaçados por cortes significativos no financiamento global para programas de saúde infantil. Países em crises humanitárias e nações endividadas são os mais afetados, enfrentando escassez de profissionais de saúde, fechamento de clínicas e interrupções em campanhas de vacinação e tratamentos contra malária e diarreia.
Catherine Russell, diretora-executiva do UNICEF, alertou: “Milhões de crianças estão vivas hoje devido a intervenções como vacinas, nutrição e acesso a água potável. Mas sem os investimentos certos, podemos reverter esses ganhos.”
Principais causas
Quase metade das mortes de menores de cinco anos ocorre no primeiro mês de vida, principalmente por complicações no parto e prematuridade. Após o período neonatal, doenças como pneumonia, malária e diarreia são as principais causas de óbitos evitáveis. No caso dos natimortos, 45% acontecem durante o parto, muitas vezes por falta de assistência médica adequada.
Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, destacou: “Podemos salvar milhões de vidas com medidas como prevenção de malária e cuidados neonatais. Mas, com os cortes de financiamento, precisamos de mais colaboração global.”
Desigualdades
As chances de sobrevivência de uma criança ainda dependem cruelmente do local onde ela nasce:
- Uma criança na África Subsaariana tem 18 vezes mais risco de morrer antes dos cinco anos do que uma na Austrália ou Nova Zelândia.
- Quase 80% dos natimortos ocorrem no Sul da Ásia e na África Subsaariana, onde mulheres têm até oito vezes mais chances de perder um bebê do que em países ricos.
- Dentro dos países, crianças pobres, de áreas rurais e com mães sem educação são as mais vulneráveis.
Juan Pablo Uribe, do Banco Mundial, afirmou: “Investir na saúde infantil não só salva vidas, mas impulsiona economias. Países de baixa renda precisam de acesso a vacinas e tratamentos essenciais.”
O caminho a seguir
Os relatórios destacam que cuidados pré-natais, partos assistidos, vacinação e nutrição são fundamentais para reduzir mortes. Mas, com a redução de 42% no ritmo de declínio da mortalidade infantil desde 2015, os especialistas pedem:
- Mais financiamento para saúde materno-infantil.
- Integração de serviços (saúde, nutrição e proteção social).
- Foco em regiões e populações mais vulneráveis.
Li Junhua, subsecretário-geral da ONU, reforçou: “Reduzir desigualdades não é só uma obrigação moral, mas um passo essencial para o desenvolvimento sustentável. Nenhuma criança pode ser deixada para trás.”
Acesso aos relatórios completos
Leia o relatório de mortalidade infantil do UN IGME aqui e o relatório de natimortos do UN IGME aqui.
O desafio agora é evitar que cortes orçamentários apaguem décadas de progresso.