
Fernando Villavicencio em campanha. Foto reprodução Facebook
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, confirmou em publicação no Twitter que o candidato presidencial Fernando Villavicencio, de 59 anos, foi assassinado na noite de ontem (9) ao deixar um comício de campanha no norte de Quito e decretou luto oficial de 3 dias e estado de emergência por dois meses. Segundo informações, outras nove pessoas ficaram feridas no atentado, entre elas uma candidata a deputada e dois agentes policiais. De acordo com as autoridades, o possível autor do ataque também morreu. Na postagem, Lasso prometeu que o crime não ficará impune. Ele também afirmou que mobilizará as autoridades do Conselho Nacional Eleitoral e da Corte Nacional de Justiça, entre outras, para tratar do assunto. “O crime organizado já foi muito longe, mas sobre ele cairá todo o peso da lei”, acrescentou.
O primeiro turno das eleições presidenciais do Equador está marcado para 20 de agosto. Villavicencio não estava entre os preferidos para ir ao segundo turno nas pesquisas de intenção de voto, lideradas até então por Luísa Gonzales, do partido Revolução Cidadã.
Em programa de uma emissora pública de televisão, Villavicencio afirmou, dias atrás, ter recebido várias ameaças de morte, possivelmente de Fito, líder do grupo Choneros, que exigia que o candidato não mais citasse seu nome durante a campanha.
A luta contra o crime organizado e a criminalidade, cada vez mais em alta no país, é uma das principais promessas dos candidatos que disputam as eleições presidenciais. Entre eles, estão o ambientalista Yaku Pérez, o ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner, Daniel Hervas, Daniel Noboa, a deputada Luisa Gonzáles, o especialista em segurança Jan Topic e Bolívar Armijos, que se apresenta como independente. As eleições não foram suspensas.
Crime organizado e corrupção
Para Maria Villarreal, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e do programa de pós-graduação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), a manutenção do primeiro turno presidencial em 20 de agosto é uma importante sinalização para a sociedade equatoriana.
“O Equador precisa reagir, pois é um momento de extrema consternação e choque para a sociedade, ainda mais numa sociedade que não está acostumada historicamente com tais níveis de violência. É um momento de unidade e de necessidade de concertação nacional. A manutenção das eleições é uma mensagem positiva, uma mensagem em que se responde aos desafios que o crime organizado coloca. Vai ser muito importante que o novo governo conte com o apoio das demais forças políticas para conseguir implementar um processo de reconstrução nacional para fazer frente ao crime organizado, uma ameaça grave à democracia”, pontua.
A professora lembra que o Equador era tradicionalmente um país de trânsito para drogas e se tornou um importante centro de processamento e distribuição da droga na América Latina. “Neste momento, o país só está atrás dos Estados Unidos e da Colômbia nas Américas”.
“O Equador, até 2017, era considerado o segundo país mais seguro da América Latina. Essa onda de violência que o país está experimentando é relativamente recente e muito grave. O assassinato do candidato ocorreu num contexto de crescente violência política. Só para se ter uma ideia, nesse último ano, quatro candidatos de governos locais foram assassinados e vários sofreram atentados. São candidatos de diversas tendências políticas”, diz Villarreal.
“O Fernando Villavicencio era um jornalista investigativo que tinha denunciado vários casos de corrupção em governos anteriores e nos últimos anos ele tinha se tornado um líder político ativo. Foi deputado e virou candidato à presidência. Embora não fosse um dos favoritos, ele era uma figura importante na denúncia desses grupos do crime organizado transnacional. Já tinha recebido diversas ameaças e sofreu um atentado no ano passado. Esse atentado busca gerar instabilidade e caos no país por parte do crime organizado”, conclui.